
Em estado de jejum (sem consumo de alimentos), nosso corpo utiliza os macronutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) armazenados para suprir as funções vitais. A glicose, molécula de carboidrato circulante no sangue é um nutriente essencial para o cérebro, sistema nervoso, eritrócitos (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e outros tecidos que necessitam dela.
Aumentamos a quantidade de glicose no sangue (glicemia) principalmente consumindo alimentos que fornecem carboidratos, mas não unicamente por meio deles. O desequilíbrio da glicemia pode gerar um processo inflamatório, por este motivo nosso corpo se adapta para obter a glicose de outras formas além do consumo de alimentos.
No início do jejum, a glicose é obtida a partir do glicogênio (grande molécula armazenada como reserva de carboidratos), pela ação dos hormônios glucagon e epinefrina, sendo que esses estoques são esgotados entre 18 a 24 horas de jejum. Mesmo após este período, nosso corpo encontra formas de produzir mais glicogênio para não ficar sem energia (glicose), processo chamado de gliconeogênese ou neoglicogênese.
No jejum prolongado, reduz a produção de glicose pelo fígado e aumenta pelos rins. O corpo produz mais glicogênio para equilibrar a glicemia, e para isso pode utilizar as reservas de proteínas como combustível. Os hormônios catabólicos epinefrina, tiroxina e glucagon estimulam a liberação das proteínas musculares e outros substratos disponíveis para a produção de glicose.
Com a adaptação ao jejum, o fígado diminui a produção de glicose de 90% para menos de 50%, o restante é suprido pelos rins.
Jejum emagrece?
Além da glicose, outra fonte de energia que nosso corpo utiliza é a gordura, justamente ela que queremos eliminar não é mesmo? A gordura fica armazenada nas células chamadas adipócitos (tecido adiposo/gorduroso) e é utilizada primeiramente pelos músculos, incluindo o músculo cardíaco, para a produção de ATP (molécula de energia).
Em jejum reduzimos as concentrações de insulina (hormônio que leva a glicose do sangue até os tecidos) e aumentamos a liberação dos hormônios “anti-insulina” como glucagon, cortisona, epinefrina e o hormônio do crescimento (GH). Esses hormônios ativam a enzima lipase hormônio-sensível nas células que armazenam gordura. Esta enzima é responsável por dividir a gordura em ácidos graxos e glicerol. Os ácidos graxos são transportados para o fígado para sofrer o processo de β- oxidação e formar cetonas que serão utilizadas como fonte de energia para os músculos, o que evita o catabolismo muscular.
A adaptação ao jejum depende da produção de cetonas, mas esta não é necessariamente a melhor estratégia para emagrecer.
À medida que aumentamos a liberação de cetonas durante o jejum, o cérebro e o sistema nervoso começam a utilizar essas moléculas como fonte de energia. Mas você lembra que comentei no início do artigo que a glicose é essencial para o cérebro? Em jejum reduzimos o níveis de glicose e o cérebro começa a priorizar as cetonas, além de diminuir a demanda por proteínas musculares, o que reduz o catabolismo muscular.
A gordura não pode ser convertida em glicose, mas ela fornece combustível para os músculos e cérebro por meio das cetonas. A liberação de insulina pelo consumo de alimentos inibe a transformação da gordura em cetonas, o que limita a adaptação ao jejum, mas também evita a perda de massa magra.
Jejum sem restrição calórica não emagrece. Entenda que o jejum intermitente é uma estratégia nutricional que pode ser interessante para diversos objetivos, inclusive para o emagrecimento. Contudo, a prática precisa ser orientada pelo seu nutricionista para potencializar os benefícios e evitar as possíveis complicações resultantes da prática incorreta.
Essa matéria foi escrita por Andryely Pedroso, eleita a primeira nutricionista LinkedIn Top Voices do Brasil em 2020.